domingo, 12 de fevereiro de 2017

Sexo e envolvimento emocional ao redor do mundo

A ideia inicial era bem simples, vou dar a volta ao mundo, conhecer pessoas incríveis, transar com um cara de cada país e ainda por cima fazer muitos amigos ao redor do planeta.


Só que as coisas não acontecem exatamente da forma como imaginamos, principalmente quando não se tem referências sobre esse assunto. Muitas pessoas escrevem blogs e relatos excelentes sobre dar a volta ao mundo, como o 360 meridianos, projeto Viravolta, Votre tour du monde, etc. São todos muito bem escritos, com muitas dicas, fóruns, perguntas e respostas, etc. Mas um tema que todos negligenciam é o sexo. 

Afinal, como lidar com o fato de passar um ano sozinho, longe de todos que você conhece, explorando países e culturas diferentes dos seus e ainda assim conseguir ter uma vida sexual ativa e prazerosa? Pois bem, vou contar a minha experiência até agora!


Primeira coisa, separar sexo e sentimento. Pode parecer frase de manual para ser puta, mas é um ponto muito importante. Eu estou viajando, isso significa que hoje estou aqui, amanhã não estou mais, parti, fui embora, bye bye. Como quase toda pessoa que é linda e simpática (and modesta), sempre gostei de sair, paquerar, conversar pra ver se ele é do time do #foratemer, ver se tem todos os dentes, essas coisas. E quando conheço um cara legal, obviamente eu gosto de repetir a dose, me interesso, e aos poucos vou me envolvendo. 

Isso pode trazer muita angústia na vida de um viajante, e eu mesmo ainda sofro por alguns dos meus ficantes, porque sei que são pessoas que eu gostaria de conhecer mais, de beijar mais, de transar mais e com os quais eu sei que o sexo só iria melhorar, além de poder ter um cara bacana do meu lado. Por isso, ao longo desses meses de viagem, aprendi a aplicar a filosofia do Carpe Diem aos meus encontros, e nesse ponto realmente tento curtir ao máximo cada minuto ao lado do crush, afastando pensamentos negativos e procurando absorver ao máximo daquele momento especial.


Outra coisa que ainda é complicado lidar é o vício dos aplicativos de pegação. Pense bem, estou sozinho no mundo, literalmente! Às vezes, não tenho com quem conversar, não tenho nenhum amigo na cidade onde estou, e isso faz bater uma angústia que nem sempre é fácil de lidar. Não é algo que dê medo, eu sei que é passageiro, sei que a quase qualquer momento posso ligar para a Wanessa ou para a minha mãe, que tenho um bom punhado de amigos que ficaram felizes em falar ou teclar comigo, mas isso não é uma presença real, entende? Não é algo que eu posso ir ali no café da esquina e olhar no olho, e por isso acabo usando demais o Grindr, Tinder e similares. Obviamente queria ser foda o suficiente para ir nos lugares e paquerar olho no olho, mas não sou assim, e também não sou do tipo que pode ficar semanas sem contato com ninguém e estar super bem. Eu gosto de conhecer gente, eu gosto de encontros, eu gosto de conversar, por isso tento encontrar uma solução. Estou aos poucos descobrindo outras ferramentas que não incluam ter que chupar uma rola para poder bater um papo, como os meetings do couchsurfing ou um site chamado meetingup. Ainda não usei de fato nenhum deles, mas já estou pesquisando, pelo menos!

Sobre outras formas de fazer sexo, existem basicamente as saunas e os bares de pegação. Não fui em muitos lugares assim, na real me lembro de 4 vezes durante esses meses todos. Não foram experiências ruins, inclusive em Sydney a sauna Bodyline te oferece café, chá e chocolate quente grátis! Mas acontece que ter prazer é algo muito pessoal, e eu preciso ter algum desejo pelo cara, alguma coisa que me atraia mais do que apenas o corpo. Ter um pau ou uma bunda ali pode ser bem excitante, mas é um gozo rápido, algo como comer uma refeição gostosa, mas sem sal algum. Dessa forma, procuro sempre o encontro clássico, sair para uma cerveja, um café, conversar sobre a vida, gostar do que vejo e ouço, sentir que é recíproco, e daí fazer o que os dois tivermos vontade. Dá muito mais trabalho, eu sei, e me faz transar muito menos do que meus amigos quando viajam, mas fico mais satisfeito.

Como é inevitável conhecer pessoas que marcam a gente, uma das coisas que eu fiz, para mostrar afeição aos caras que se tornaram especiais, foi enviar um cartão postal. É como se aquele pedaço de papel com a minha letra enviasse para eles um pouco de mim. Não é por ser efêmero que algo é ruim, não é por não ter futuro que uns poucos dias curtidos juntos não sejam importantes. Eu aprendi que as pessoas podem sim estar apenas por um breve momento juntas e ainda assim serem inesquecíveis uma para a outra.

E o tesão? E o desejo?

O desejo físico é algo que a gente pensa e repensa mil vezes enquanto viaja. Afinal, o que me atrai? Conhecer tantos países, com diferentes padrões de beleza, me fez pensar fora da caixa, e experimentar sair com caras que no Brasil talvez eu não desse chance. 

mas não esse!

E isso me mostrou que muitos tipos de homem podem ser excitantes, ou talvez seja eu que seja fácil demais, ou os dois!!! Uma coisa que eu posso afirmar é que o mundo é totalmente dominado pelo estereótipo "man acting". Em todos os lugares que passei o ideal dos caras é não parecer gay, seja lá o que isso for. A visão do que é masculino é bom não é apenas ter barba ou ser malhado, mas também não ter nenhum gesto, fala ou atitude que te identifique como homossexual. Ridículo? Claro! Meu cu pra esse povo? Obviamente! 


O fato de ter chegado aos 30 com uma ligeira barriguinha, nutrida com muito restaurante estrelado, comida de rua e cerveja boa, além de ser fã assumido de RuPaul Drag Race e adorar ver um vídeo de travesti fazendo bagunça, ao mesmo tempo que gosto da música dos cinquenta reais, Bruno Mars, Beatles e Tchaikovsky, me fez ser uma exceção ao padrão desejado, portanto não atraio os caras mais gatos do app, aqueles que você dá like no Tinder já sabendo que não vai dar match. Apesar de ficar meio mal por não ser parte do ideal de beleza do mundo ocidental, e todos que não somos ficamos mal por isso em algum momento, tenho aos poucos construído minha identidade como homem de uma maneira bem legal, edificando tijolinho por tijolinho a parede da minha auto estima. E assumir esse perfil, sem fingimentos, sem pretensões irreais, tem feito pessoas maravilhosas se aproximarem de mim.

Ativo, passivo ou X-men?

A grande questão gay desde dos tempos de Platão é: quem vai dar? E por mais louco que pareça, isso muda de país para país! Em quase todas as minhas experiências na Europa não houve nenhum tipo de penetração, e ainda assim foram trepadas maravilhosas. Quem não conhece o poder de um beijo, de uma língua e dos seus dedos não sabe o que está perdendo! Muitos amigos brasileiros nem consideram isso sexo, pois nossa cultura gay está muito ligada à penetração, aos papeis de macho e fêmea, à submissão. Alguém tem que comer o outro para considerarmos sexo. Existe até mesmo a ideia de que não há prazer sem isso, o que está bem na contramão do que eu vi e senti. Uma das minhas melhores, senão a melhor experiência sexual até agora foi com duas pessoas ao mesmo tempo, durou ao menos umas 3 horas, e não houve nenhum tipo de penetração. Como dizer que isso não foi sexo?


Na Turquia e na Índia também há essa ideia do "homem" e do "viado". Nos perfis dos aplicativos,e mesmo nas roupas e comportamento nas festas, quase sempre está bem explicito do que você gosta, e no caso dos apps as fotos e descrições mostram os extremos da imagem de macho e bichinha, sendo que mesmo antes de perguntar o clássico howareyouImfineandyou a galera já diz se é top ou bottom only. 

Claro que há exceções. Na Turquia mesmo minha única experiência de sexo foi deliciosa e totalmente desligada dos clichês. Na Índia foi mais difícil, e não tive nenhum sexo com indiano que tenha valido realmente a pena, não sei explicar o porquê, mas acho que lá eles são mais reprimidos, menos experientes e tem mais medo em serem descobertos. Não só no sexo, mas na forma de se alimentar, na relação com o álcool ou mesmo nas relações familiares, o indiano parece sempre estar se contendo, tendo medo de se expor totalmente.

Agora aqui na Austrália é uma festa, tem de tudo, para todos os gostos! Desde que saí do Brasil, é aqui onde fiz mais sexo com qualidade, talvez por isso é o lugar em que eu tenha ficado mais tempo, lá se vão quase 2 meses na terra do canguru. Eu gosto da liberdade que se tem por aqui, e isso vale para quem tem origem asiática, europeu, americano ou aussie. Em geral os caras são bem desencanados e querem mesmo é ter e dar prazer para o outro. Não que aqui também não tenha espaço para os man acting top only can't host, mas é mais variado, mais diversificado, mais livre mesmo. Uma das poucas coisas difíceis por aqui é que o padrão de beleza é igual ao do Rio de Janeiro, cara malhado, moreno de sol, fortão e tals. E eles são lindos, muito lindos mesmo, mas são que nem os animais do campo, só se reproduzem entre si. 

5 contra 1

O papel da boa e velha punheta não poderia passar em branco! Desde as punhetinhas no chuveiro, meio escondido, durante o caminho de Santiago, até aquelas que demoram, que a gente vai curtindo ao ver um filme ou lembrar de um momento bom, saber se dar prazer é algo muito importante para poder ficar de boa quando não há oportunidade, ou mesmo vontade, de encontrar alguém. Tem dias que um pouco de privacidade, um bom jantar, aquele momento relax após uma série da Netflix, tudo isso pode criar o ambiente ideal para se satisfazer sozinho. E não é feio não, não é incorreto, baixo, sujo, solitário nem nada dessas bobagens. Eu adoro bater minha punheta em paz, descobrindo meu corpo devagar, ou gozando rápido quando o tesão vem forte, tanto faz, gozar sozinho é liberdade, e para mim é uma forma de sexo igual todas as outras. Muitas vezes vem aquele cara todo errado dando em cima de você, daquele tipo que você sabe que não vai valer a pena nem o dinheiro do transporte para chegar até ele, então para que perder tempo dando moral pra gente tosca? Abaixe essa cueca ou essa calcinha e se liberte! Afinal, como já cantava a Eliana: todos os dedos, todos os dedos, onde estão? AQUI ESTÃO!


Nunca viajei tanto tempo sozinho na minha vida, e nem tenho como saber por quanto tempo irei continuar na estrada, mas eu gostaria de terminar a minha viagem tendo aprendido a estar bem comigo mesmo, a ser de certa forma auto suficiente, de não buscar no outro as motivações e vontades que devem partir de mim. Um dos meus objetivos desde que comecei a volta ao mundo é me sentir mais pleno, mais íntegro, mais confiante. O sexo é parte importante dessa viagem de auto conhecimento, é uma das formas mais interessantes de auto observação, inclusive quando usado como ferramenta para espantar a solidão. Esse aprendizado, acredito eu, será fundamental para o meu futuro. E que venha muito sexo (seguro, sempre) pela frente!

LM