Por que voltar a escrever?
Há muito tempo não escrevo, e não sei explicar o porquê, mas vou tentar.
A minha viagem de volta ao mundo acabou há algum tempo, já fazem 7 meses que moro aqui na Austrália e a vida acabou entrando na rotina. Coincidência ou não, essa também é a época em que menos fotografei em muito tempo, mesmo antes de ter a câmera, o que me faz perguntar se a rotina, a pressão do trabalho ou apenas a passividade de vida cotidiana, seriam esses fatores algo como água sobre o fogo para a criatividade, para a inspiração?
A resposta fácil seria dizer que sim, que o dia a dia é chato demais para nos fazer olhar com mais cuidado para uma árvore no outono, quando suas folhas começam a se espalhar pelo chão, ou que a rotina nos faz colocar em segundo plano aquela ideia bacana que queríamos botar em texto. Mas daí seria muito simples, quer dizer que a única forma de olhar a vida por um novo ângulo é quando saímos da realidade que nos cerca? Ora, viajar, explorar e estar fora do que é a vida normal são geralmente momentos de excessão, de escape, mas mesmo que nem todo dia seja uma aventura, sempre há espaço para encaixar um tempo para nós mesmos nesse turbilhão de monotonia que nos cerca.
Por que é isso, escrever, fotografar, se expressar de uma forma ou de outra, são na verdade exercícios de reflexão sobre nós mesmos, sobre o que pensamos, o que sentimos e como vivemos. Por que tiro uma foto do céu, de um carro, de um cachorro? Por que de repente me vem na cabeça um poeminha sobre os tijolos da parede do meu prédio? A síntese da criatividade está nas diferentes percepções de realidade que cada um experimenta à sua maneira. Olhar uma foto, um quadro, ler um texto, é entrar por um momento no mundo do outro, compartilhar por um instante o universo onde normalmente estamos sozinhos. Por vezes, apreciar algo que nós mesmo produzimos é se olhar de fora e, às vezes, descobrir mais de si mesmo nesse processo.
Talvez o que tenha me faltado até agora aqui em Sidnei é justamente esse distanciamento do que estou vivendo e passando por aqui. Viver na Austrália tem sido uma experiência intensa, incrível, um laboratório importantíssimo para me entender, para traçar meus próximos passos na vida. Ao mesmo tempo, me fez experimentar novamente o que era a minha vida em São Paulo, o quanto eu faço concessões para coisas e pessoas que não gosto apenas para continuar vivendo com aparente harmonia, e reconhecer isso me faz imediatamente parar para pensar e deixar de ser (ao menos um pouquinho), tão estúpido.
Por isso volto hoje a escrever, e por isso tenho fotografado novamente. A vida só é chata, a rotina só é entediante, se assim quisermos. Continuo com a plena convicção que somos os únicos responsáveis pela nossa vida, que somos diretamente o fruto de nossas escolhas. E a minha escolha eu já fiz há muito tempo.
Ser livre!
LM