sábado, 17 de dezembro de 2016

Quanto custou os 6 primeiros meses de viagem?

A grande pergunta de todos que sonham em viajar pelo mundo!

A resposta curta, R$30.000,00.

alegria e diversão por meio ano por menos que um uno!

Ter uma boa ideia dos gastos é muito importante, afinal, do que adianta apenas sonhar com vales verdejantes, aventuras pitorescas e experiências transcendentais se a gente não tem ideia se é possível ou não?

Quando eu comecei a pesquisar sobre isso, tinha na cabeça que era algo caro, tipo, muito caro mesmo, afinal eu estava acostumado apenas a planejar viagens de férias, e pelas minhas preferências de alimentação e hospedagem isso nunca saia barato. Junto com a Wanessa, minha melhor amiga, costumava gastar entre 10 e 15 mil reais para duas semanas de férias, isso incluindo todos os gastos, inclusive refeições em restaurantes estrelados em Paris e Nova Iorque, hotéis na beira da praia na Tailândia e outros mimos que eu e ela curtimos muito, e que merecemos porque trabalhamos pra isso!

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Só que férias e volta ao mundo são duas coisas bem diferentes. Veja bem, não dá para ser turista o tempo todo, é muito cansativo e caro! Além do mais, o fato de ter muito tempo livre faz com que você encare as coisas com mais calma, curtindo mais cada momento, e esse é um dos maiores prazeres desse tipo de viagem.

O seu estilo de vida vai determinar grande parte dos custos. Eu vivo com a política da lembrancinha zero, ou seja, não compro nada de recordação, não envio aquele cristal tcheco lindo pra casa da minha mãe, perco o preço incrível daquela imagem de Ganesha entalhado em Nova Delhi, passo longe de qualquer coisa que eu tenha que carregar ou despachar. No final, terei minha fotos (isso sim uma nova paixão que estou descobrindo), e minhas lembranças no coração.

apenas não.

Digo isso porque os preços que vou detalhar estão funcionando muito bem para mim, porém podem não ser os mais adequados para você (mas vai dar uma base de qualquer maneira, e é essa a minha ideia). 

Meus gastos básicos são: transporte, hospedagem, comida, atividades turísticas (museus, tours, etc) e ocasionalmente roupas. E só. 

Vamos começar com o transporte. Muitos blogs e sites falam sobre aquela famosa passagem de volta ao mundo, que as três principais alianças de companhias aéreas, oneworld, skyteam e staralliance, vendem de forma relativamente simples e online, com um custo aproximado de 5 mil dólares e o prazo de 1 ano para utilizar. Eu não quis comprar esse tíquete por que ele limitaria o meu trajeto, ou seja, eu poderia até mudar a data da passagens, porém não poderia mudar o roteiro, e eu vi na prática que as oportunidades vão surgindo ao longo da viagem, e que mudanças de roteiro são relativamente comuns. Outro fator foi o custo, simulei vários trechos que tinha em mente antes de partir e vi que, no final, iria gastar praticamente o mesmo valor, ou até menos! Até agora eu gastei, com aviões, trens e ônibus menos de R$6.500,00.

Trens, aviões, vacas, na volta ao mundo a gente vai do que der!

Agora a hospedagem. Eu fiquei em couchsurf, hostel, albergue de peregrinos (durante o caminho de Santiago), casa de amigos, airbnb e também numa tenda na Sicília, durante um trabalho voluntário. Mais uma vez é bom lembrar que o seu nível de conforto vai influenciar muito no custo. Se você acredita que só vai conseguir ficar em hotel, num quarto individual, pode projetar gastar cerca de 5 vezes ou mais o valor que eu gastei até agora, cerca de R$5.000,00.

se você não está preparado para encarar um quarto assim de vez em quando e ainda assim quer dar a volta ao mundo, sugiro ganhar na mega sena!

Sobre os passeios e atividades turísticas, tentei manter o bom senso, ao mesmo tempo em que me dava a oportunidade de realizar várias vontades, e não limitava os meus interesses pessoais. Na Itália fui em vários monumentos e museus, durante minha viagem com minha mãe fiz novamente todo o basicão de Paris, Bruxelas e Amsterdam (que são bem caros, por sinal), no leste europeu fui ver diversas óperas, orquestras e balé, na Turquia voei de balão e fiz lindos passeios pela Capadócia, e agora na Índia estou fazendo vários passeios interessantes, além de ter almoçado no melhor restaurante do país, o Indian Acent (R$500 pelo almoço com vinhos). Com todos esses programas legais e inesquecíveis, gastei até agora uns R$6.000,00.

tá achando que é gratís essa beleza toda?

Se fizermos as contas, chegamos a R$17.500,00. O resto, aproximadamente R$12.500,00 foi APENAS PARA COMER, ENCHER O BUCHO, FICAR MAIS CHEIO QUE O BUSSUNDA NO CHURRASCO! E eu comi bem, muito bem, praticamente todos os dias. Fiz muitas compras no mercado e cozinhei bastante, mas tenho me alimentado muito fora, em parte por que muitos dos lugares onde me hospedo não oferece cozinha, e em parte por que eu gosto de conhecer a culinária local, ou mesmo comer um yaki-koisa na rua, tomar muitos e muitos litros de café, comer os docinhos típicos (canoli siciliano, baklava turco, gulab-jamur indiano, um beijo!), enfim, é um gasto que para mim é questão de qualidade de vida. Muitos amigos se viram bem com miojo e mcdonalds por meses e meses, eu não.

Mc Coelho do Alain Ducasse

Então, fazendo um resumão dos gastos, fica assim:

Custo total dos 6 primeiros meses de viagem: R$30.000,00

Transporte R$6.50,00 - 22%
Hospedagem R$5.000,00 - 17%
Diversão R$6.000,00 - 20%
Alimentação R$12.500,00 - 41%

E aí, tem alguma dúvida? Quer saber sobre algum detalhe dos transportes, da hospedagem? Pergunta aí, que uma coisa que eu tenho aqui é tempo para responder!

LM

domingo, 4 de dezembro de 2016

O pós comunismo na Europa do leste.

E então um belo dia, a URSS acabou.



Quando estava no colegial, nossa professora de geografia (querida Marlene, beijo!) nos fazia ler uma espécie de jornal bimestral que sintetizava as principais notícias políticas e sociais internacionais, chamado Boletim Mundo. Era uma leitura muito importante num mundo onde a banda larga era de 1 mega, e que a cabeça de um adolescente de Botucatu não podia facilmente se expandir.




Em 2004, a União Européia recebeu 10 novos países membros, sendo 8 deles antigos estados socialistas. Nessa época, li muito sobre o processo de integração e também sobre a história desse países. A queda do muro de Berlim ganhava mais nuances à medida em que eu descobria o Solidariedade na Polônia, entendia como funcionava a cerca elétrica na Hungria, e como ela foi desligada do dia para a noite, enfim, a história ganhava vida quanto mais eu pesquisava e descobria.

O que realmente me fascinou desde essa época foi entender a queda do comunismo. Num mundo fragmentado, com difícil acesso à informação, e com governos que censuravam a mídia, como tantos países se livraram, praticamente ao mesmo tempo, do jugo da União Soviética? Para mim aquilo era incrível! Alias, ainda hoje é surpreendente!

Quero ver mandar mensagem para o grupo da família num desses!

Quando morei em Bruxelas, não tive a oportunidade de visitar nenhum desses países, mas fiquei com essa curiosidade latente, sabendo que um dia seria satisfeita. E que melhor momento para satisfazer minhas curiosidades do que meu ano sabático, cheio de tempo livre e um pouco de dinheiro no bolso? Por isso incluí no meu roteiro praticamente um mês de passeios por alguns países, Républica Tcheca, Hungria, Romênia e Bulgária, sendo que esse último surgiu só no final, quando me dei conta que 10 dias seria muito tempo em Bucareste. Cada um desses países me ofereceu experiências únicas, fascinantes, muito acima da minhas expectativas. E também cada um deles lidou de uma maneira muito particular com o fim da sua relação com o comunismo e os desafios futuros. 

Praga


Os tchecos lidam com o comunismo no esquema "não vi, não comi, só ouvi falar". Em Praga encontrei apenas uma escultura, muito forte por sinal, em que as vidas destruídas pelo tiranismo do comunismo são homenageadas.

 

Fora isso, nos monumentos históricos são ressaltados principalmente os períodos em que o país foi parte do império Austro-Húngaro e o breve período entre guerras em que o país foi uma república independente. Sem esculturas, sem museus, sem nada que lembre a ligação com a Rússia ou mesmo a famosa primavera de Praga em 1968.

Budapeste

Na Húngria, a história já é diferente. Eles ODEIAM o comunismo, tipo, muito mesmo. Em Budapeste a sede da antiga polícia secreta foi transformada no Museu do Terror, onde são exibidos lado a lado os crimes e barbaridades praticados pelos nazistas e pelos comunistas. É um lugar forte e que abala a gente, mais forte que o Museu Judeu de Berlim inclusive. Nesse edifício, é possível visitar inclusive os porões onde os presos eram interrogados e torturados.





Perturbador

Essa postura de crítica ferrenha é visível em quase todos os monumentos históricos da cidade, o que se encaixa dentro de uma visão que os húngaros tem de si como uma nação quase sempre ocupada e controlada por forças externas, Otomanos, Alemanha, URSS, mas que apesar disso resistiram e venceram. O principal feriado nacional celebra justamente uma revolta de 13 dias ocorrida nos anos 50 contra as diretrizes soviéticas para o governo do país. Essa revolta terminou numa ocupação militar russa que durou muitos e muitos anos, mas hoje é vista como uma prova de coragem da população.

Bucareste

À medida que meu trem ia para o leste, mais eu sentia que estava me aprofundando na influência do comunismo no modo de ser das pessoas, na prestação dos serviços, na maneira que as cidades funcionam. A Romênia me mostrou isso de forma muito clara.

Em primeiro lugar, o comunismo no país tem nome e sobrenome, Nicolae Ceaușescu. Esse cara foi o ditador do país durante décadas, e aprendeu bem com Stalin como promover o culto à sua pessoa como forma de dominação e preservação dos privilégios. O seu legado mais impressionante é o parlamento, o segundo mais edifício administrativo do mundo, que destoa totalmente do resto da cidade. Além disso, quando fui fazer a visita, o edifício estava fedido, muitas partes mal cuidadas, muitos improvisos, mas ainda assim muito, muito impressionante!



A Romênia é um país relativamente grande em comparação com o resto da Europa, com muitos recursos naturais, campos férteis, acesso ao mar, enfim, muitas possibilidades. No entanto, Bucareste foi uma das capitais menos bonitas que conheci nesse passeio, justamente porque o contraste é muito forte, poucos lugares bonitos, principalmente parques, e muitos lugares muito mal cuidados, prédios em mal estado, pintura caindo, e somado a isso uma certa apatia da população, um climão em grande escala que dava para sentir no ar. É como se eles tivessem meio que desistido de alguma coisa, e um bom exemplo é o transporte público, bondes e ônibus que fazem a frota de Botucatu parecer de qualidade! Uma população mais politizada, mas participativa, costuma ter um nível de exigência mais alto em relação aos serviços públicos. Parece que ali eles ainda não entenderam que não precisa (ou não deveria precisar) ter mais medo.




contrastes

Não vi nenhum monumento comunista, tampouco nenhum museu ou exposição que abordasse o tema, mas deu para sentir a energia desse período com em nenhuma das duas primeiras cidades.

Sofia

Para ser sincero, a Bulgária nunca esteve nos meus planos. Em relação às outras cidades em algum momento senti curiosidade ou um interesse especial, porém eu estava sentindo que 10 dias em cada lugar estavam sendo um pouco demais, pois eu ficava entre o meio termo de ser um turista e ser um local, uma espécie de limbo. E como não estava encontrando tantas coisas assim para fazer na Romênia, decidi que iria fechar meu ciclo comunista com a Bulgária.

 E foi a melhor coisa que eu fiz!

Sófia é pequena, bonita e super interessante. Se em tamanho ela fica perto de Piracicaba ou Bauru, em cultura ela se aproxima dos outros lugares visitados principalmente por não ser óbvia. Os visitantes são raros por lá, principalmente na época que eu fui, começo do inverno.

A Bulgária ainda tem traço fortes dos anos comunista, está presente em diversos edifícios públicos, na arquitetura, nas casas, maneira como as pessoas interagem. O país foi um dos que manteve laços mais fortes com a URSS, inclusive eles cogitaram a ideia de se tornar parte do bloco nos anos 70, e hoje, apesar de ser parte da União Europeia, a proximidade física e também cultural, o alfabeto utilizado é o mesmo que a Rússia utiliza, o cirílico, faz com que se encontre uma fusão interessante de dois mundos bem diferentes.

Um dos melhores exemplos é a estação de trens da cidade. É um edifício moderno e bem iluminado, construído com dinheiro europeu, com fachada e interior que lembram uma estação alemã, porém para chegar na estação é preciso atravessar ruas desertas e escuras, literalmente sem nenhum poste, vários cachorros de ruas latindo e uma passagem subterrânea que parece saída de um filme de suspense. 

Porém, mesmo com todos esses contrastes, me senti muito bem por lá, assisti ao balé mais bem executado que vi até hoje, O Lago dos Cisnes, e também a uma versão bem executada de Eugene Ogenin, e além disso foi uma delícia andar pelas ruas e conhecer pessoas legais de lá. Pretendo voltar no futuro.