quinta-feira, 23 de março de 2017

Hopeless

Acabei de ter uma super crise de choro no banheiro de um shopping aqui em Saigon. 

Visitei o museu da guerra do Vietnã, onde vi dezenas de fotos e relatos mostrando a inconcebível crueldade do ser humano. Depois comecei a andar pela rua e encontrei uma senhora, bem velha, tentando vender chiclete e sendo ignorada por todos que passavam. Eu não costumo dar esmolas, mas não resisti e voltei até ela e dei 2 mil dongs, que é o mesmo que trinta centavos de real. 

Continuei andando e meu peito começou a sufocar, assim do nada, respirei fundo e continuei andando, e as imagens da guerra, das crianças miseráveis que vi na Índia, aquelas que nunca, em toda sua vida, terão oportunidade alguma, daqueles desconhecidos no meio dá África, ignorados pelo mundo, morrendo de fome, de doença, de tiro, de sede. 

Estou dando a volta ao mundo, estou escrevendo isso sentado no ar condicionado de um shopping, tomando um suco que custa o mesmo que uma refeição para um faminto, e sinto que a humanidade é algo sem esperança. 

No banheiro eu chorei por fazer parte dessa desigualdade que não tem tamanho, pela guerra que é sobreviver, pela imensa injustiça que alimentamos todos nós que somos os privilegiados, chorei de ódio pelas marcas, pelo consumismo em troca da fome e da morte, chorei por que não consigui sufocar esse sentimento horrível de ser um criminoso contra meu irmão. O quê eu vou fazer?

LM

Um comentário:

  1. Lendo o teu relato, consegui visualizar cada imagem que você citou. Tbm, aqui no meu cantinho privilegiado, senti aquele conhecido aperto no peito.

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