Voltamos aos bonitos cenários pelo caminho. Hoje cruzei pequenas florestas, vi mais campos do que estradas, e pude apreciar melhor a paisagem.
Minha caminhada hoje foi tranquila, apesar de longa. Não senti tanto o caminho, e fiz mais pausas do que estou acostumado. Tenho uma sensação que estou sendo muito sisudo com minhas caminhadas, pegando muito pesado e isso tem me feito aproveitar menos. Por que não tomar um café nesse lugar tão bonito? Por que não desfrutar de uma boa conversa com outro peregrino que está descansando? Meu medo de que não consiga pegar o ritmo depois não me convence mais, já estou me acostumando a andar, portanto sei que vou conseguir.
JÁ CAMINHEI MAIS DE 250 QUILÔMETROS PORRA!
O equivalente à distância entre Botucatu e São Paulo, para sua informação. Ou seja, muito mesmo. A pé. Com uma mochila de quase 13kg nas costas.
Após uns 7km encontrei Ralph e Gregoire no caminho. Ralph é um bombeiro gay aposentado da Califórnia, e Gregoire é um austríaco que trabalha numa indústria química. Os dois são muito legais e o papo com eles sempre flui muito bem.
O Ralph me falou hoje que tenho uma energia muito boa, e que ele precisava dizer isso. Foi a segunda pessoa que me disse isso, a primeira foi a Sívia, de Barcelona. Fico pensando o que fazer com essa informação. Se me falam isso, deve ter alguma razão. Se eu consigo transmitir algo bom para os outros, como posso usar isso de maneira a melhorar o mundo?
Pensei muito hoje sobre o meu talvez futuro negócio. Pensei no modelo de atelier que vi em Barcelona, fazer meus bolos em pequena escala e esperar os clientes passarem. Mas será que é realmente viável algo tão experimental? E será que conseguiria tocar sozinho, ao menos no começo? No momento acho que não. Precisaria de um investimento razoavelmente alto, para um negócio que é difícil de entender o público alvo, pois comprar bolos que são feitos de maneira diferente a cada dia, novos sabores e tals, pode ser uma ideia bacana no começo, mas e a longo prazo?
Minha outra ideia é algo que trabalho dentro de mim desde Bruxelas. Um restaurante pequeno, realmente pequeno, onde eu trabalho sozinho, atendendo 30 pessoas por dia. Eu poderia ter cardápios criativos, trabalharia apenas de segunda a sexta e poderia tocar o negócio sozinho sem tantos problemas. O público seria focado em trabalhadores no almoço, um ambiente informal, um balcão em forma de U e eu cozinho nessa ilha. Entrada, prato, sobremesa e um copo de vinho por 10-15 euros. Atendi 30 pessoas, parei, quem quiser volta amanhã, o que pode ser igualmente uma estratégia de marketing. Me parece uma ideia boa, posso começar bem pequeno, com um investimento que não me mataria se desse errado, pode ser muito divertido e eu acho que cozinho bem o suficiente para fazer isso.
Mas onde?
Essa questão vai me acompanhar durante toda a minha viagem. Para onde eu vou depois de dar a volta ao mundo? Onde quero viver? Claro que ainda não há resposta, e de verdade eu estou bem com isso, pois ainda há muito que conhecer, e acho que aos poucos vou me habituando a não ter residência fixa, pelo menos por enquanto.
Conversei muito com Gregoire, andamos mais rápido que o Ralph e caminhamos juntos até chegar em Ages. É legal melhorar meu inglês, que estou usando muito esses dias, faz com que eu perceba meus erros e melhore minha pronúncia. É legal também pensar em inglês em alguns momentos, faz com que eu aprenda melhor o idioma.
Estou na menor cidade até agora, sem mercados, sem nada além de algumas casas, uma igreja e três albergues. Vou jantar meu segundo menu dos pelegrinos hoje, porque em nenhum hostel se pode cozinhar. Vou provar a famosa sopa de alho, que tenho vontade de tomar há uns 15 anos, espero que seja gostosa!