quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Dia 7 - Caminho de Santiago - Los Arcos

Não deveria ter bebido tanto, obviamente.

Dormi muito mal, acordei o tempo todo com ânsia e tomei muita água, mas hoje cedo ao sair do albergue tomei um iboprofeno e um café sem açúcar pra aguentar a dor de cabeça.

Pensei muito sobre a forma como lido com meus excessos. Álcool principalmente, eu simplesmente perco a noção de limite e acabo passando mal. Claro que foi uma lição, eu devo mesmo pensar nisso mais a sério, porém a questão que me vem é: por quê?

Para mim beber me dá o "direito" de liberar algumas amarras que existem em mim. Todo o trabalho para parar de querer conquistar qualquer um que passe na minha frente desaparece, e eu fico tarado demais, falando merda e sendo inconveniente. No fundo eu apenas sou eu mesmo, faz parte da minha natureza isso, e beber só faz eu tirar minha capa social. 

E precisamos da capa social para construir nossa imagem perante a sociedade onde estamos inseridos. 

Além disso, beber dá uma dor de cabeça do caralho, e eu ODEIO ODEIO ODEIO a sensação da ressaca, é como se eu tivesse perdido a batalha contra o bom senso. Me sinto bem imbecil, porque nunca vale a pena.

E não é que ao sair da cidade o que é que eu encontro? Uma FONTE DE VINHO CACETE!

Meu, Deus só pode estar de sacanagem né? Tipo, não queria beber viado, agora bebe! E como tinha uma plaquinha dizendo que tinha que beber pra chegar bem em Santiago e blá blá blá, fiz conchinha com a mão e bebi um golinho. 

Agora imagina essa parada no Brasil? Vinho. Grátis. Uma fonte de vinho. Não durava nem dois dias, a galera ia lá pra passar a noite! Imagino eu contando essa história para a Wanessa! Que saudade de falar com meus amigos! É a única parte chata de ficar sem facebook e zap zap. Eu fico pensando em todos eles, queria contar pro Vinícius que eu começo a minha caminhada quase todo dia ao som de Ru Paul e faço dancinhas com meu bastão de caminhada, falar pro Daniel que já conheci 3 pessoas de Albacete e que o cara que eu conheci é igualzinho ao Rodrigo! Falar pra Wa o sucesso que ela ia fazer com os caras aqui, aquela linda!

Mas eu vou contar tudo isso, só esperar uns dias. Por enquanto, estou muito feliz de não estar acessando nada, realmente não faz falta, exceto por algumas exceções. Mas é importante explicar que minha abstinência é basicamente de face, zap e apps de pegação. Estou usando muito o app do caminho, o google maps, os apps de banco e a Netflix, só que com as péssimas conexões dos albergues fica difícil assistir qualquer coisa.

Hoje a caminhada foi tão legal. Depois da fonte de vinho, encontrei dois caras, um lituano e um irlandês, e caminhos juntos todos os quilômetros restantes, conversando! Conversei muito com o lituano, e é incrível como o ser humano, com todas as suas limitações, pode ser tão interessante! Quantas formas de viver a vida! O cara trabalha como ajudante de escultor, e me contou sua história, coisas sobre seu país, a Lituânia tinha o mesmo nível de vida da Dinamarca antes dos comunistas, sobre a vida conjugal e muito mais.

Agora estou no albergue em Los Arcos, sentando numa mesa numa sombra do jardim com alemães e um francês, falando francês. O Tim, um dos alemães, foi a primeira pessoa interessada em aprender algumas coisas em português. Socializar é um bom exercício, sem o celular ajuda bastante, se obrigar a se interessar pelo outro, pode ser difícil no começo, mas a gente se habitua e começa a ficar interessante!







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