segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Caminho de Santiago - dias 22 e 23 - Ponferrada e Camponereyda

Dias intensos e cheios de emoções esses dois últimos.

Dois pontos se destacam, minha despedida do grupo de amigos que vinha andando comigo há alguns dias, e uma diarréia que fez eu aumentar (e ganhar) um dia a mais de caminho.

Sempre que eu fico doente, penso em como a gente é besta. Eu estava aí dias e dias fazendo meus planos, tantos quilômetros hoje, mais não sei quantos amanhã, aumentar a velocidade aqui, diminuir ali, e foi só comer uma lula frita estragada que toda minha presunção foi abaixo.

Claro que foi um ensinamento, uma mensagem direta do Caminho para mim, do tipo, meu filho, qual a parte de aproveitar o caminho você ainda não entendeu? A gente acaba se acostumando a tratar isso aqui como uma maratona diária, uma prova de esforço, algo a ser superado, mas nos momentos como o de hoje o Caminho lembra o porquê dele existir. Não é um exercício, não é uma disputa

NÃO É UMA CORRIDA.

Ontem andei normal, eu e o Héctor já meio que nos despedindo, tirando fotos e tals. Ponferrada é uma cidade gostosa, tem um castelo bonito e antigo e um clima gostoso para curtir. Pela primeira vez fiquei num albergue de donativo e não dei nada, nem um centavo. Não sei muito bem porque fiz isso, mas não foi 100% mão de vaquisse, mas também essa vibe de passar uma noite de peregrino, ficar na base da caridade. 

De presente ganhei o piriri!

Saimos para beber e comemorar o último dia do Héctor. Foi muito engraçado conhecer esse cara, começamos a conversar, e eu só dei papo para ele porque achei ele bonito, e ao longo desses dias todos ganhei de presente um amigo incrível, cheio de ideias e experiências de vida bacanas, que me mostrou como ter uma amizade com um homem hétero de boa, o quando a gente se prende à sexualidade de forma besta, os dois lados, e o quanto é bom estar com alguém do mesmo sexo sem precisar ou querer conquistar ele. Vai ser muito interessante visitá-lo daqui duas semanas. Será que fora do caminho nossa amizade tem como continuar? Bora descobrir!

Enfim, o Héctor escolheu um lugar chamad El Bodegon, um ambiente bem legal, montes de crianças e famílias, parecia bem tradicional. Lá eles só serviam 4 coisas, batata brava, calamar frito, mexilhão ou um baconzitos caseiro. Faziam também sangria de Cava, lembrei do Labigalini e do Miró. Tomamos cerveja e comemos três porções de brava e uma de calamar, que eu praticamente comi sozinho. Tenho certeza de que foi isso que me fez passar mal porque só de pensar já me dá ânsia.

No meio da noite acordei e vomitei tudo que havia no estômago, e também tive uma diarréia líquida bem forte. Só que depois disso consegui dormir de boa, achei que fosse só excesso de comida que meu corpo precisava eliminar. Só que não. Ao acordar, comecei a ter todos os sintomas de infecção alimentar de sempre, suor frio, muita ânsia e muita, muita diarréia. Tava me sentindo um zumbi. Tomei uma aspirina e decidi que ia ficar com a Val até mais tarde para ver o que ia acontecer e se eu precisaria ir ao hospital.

Foi a melhor decisão de todas.

Pude me despedir tranquilamente do meu amigo, quando já me sentia melhor, tomei café e comi uma fatia de pão, depois que o Hector foi embora fiquei conversando com a Val sobre um monte de coisa bacana até as 10 horas, quando me senti bem o suficiente para andar um pouco pelo caminho.

Caminhei 10km hoje. No final estava exausto, cheguei aqui em Camponaraya, fiz o check in no hostel e literalmente despenquei na cama. Dormi apenas uma hora e pouco, mas foi como se tivesse descansado uma noite toda.

Hoje eu finalmente pude fazer o que há tanto tempo queria, passar o dia vendo séries! Comecei a ver Big Bang Theory e já fiquei viciado! Não coloquei os pés para fora do hostel, literalmente. A dona, a Teresa, é uma super fofa, o lugar é limpíssimo e o wi-fi pega bem em algumas partes, menos no quarto. Falei com ela sobre meu mal estar e perguntei se eles faziam sopa, ela disse que não, mas que iriam fazer para mim! Outra coisa deliciosa, tenho um quarto só para mim hoje! Tem outros hóspedes, mas ao invés de amontoar todo mundo num quarto só, ela preferiu nos dar privacidade a todos. Realmente foi algo incrível hoje.

Tomei a sopa, uma das hóspedes é cantora de ópera e entrou onde eu estava soltando L´amour est un oiseau rebelle, de Carmem, que já foi devidamente filmado e publicado. Foi lindo de ver e de escutar, mais uma coisa deliciosa de ter vivenciado o dia de hoje.

Nada é por acaso.

LM 









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