quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Dia 20 - Caminho de Santiago - Astorga

Hoje eu me senti triste.

Não tem muito como explicar, não tem motivo nem razão, de repente alguma coisa dentro de mim me faz sentir um aperto no peito, um nó no estômago e não consigo sorrir mais, as pessoas ficam meio apagadas, cinzentas, e fico com um vazio grande dentro de mim.

Nada aconteceu, as pessoas foram legais comigo, meu corpo doeu como todos os dias, um pouco mais o calcanhar, dei risada, tomei café, comi, tudo como sempre, tudo que tem me feito feliz durante o Caminho.

Só que essa tristeza costuma não ter explicação mesmo. Eu sinto ela há tanto tempo, que é como receber a visita de um amigo dentro de mim. Antes ela vinha com mais frequência, mas já fazia tanto tempo que eu quase não a reconheci.

É uma desesperança, um choro contido, uma vontade de desaparecer, de que nada tem sentido e que a vida não vale a pena, que apenas preencho meu tempo antes de morrer. Não tenho sentido, nada do que faço tem sentido, estou aqui para nada, e ninguém que amo vai poder estar comigo para sempre.

Meu dinheiro, meu trabalho, tudo isso eu deixei para trás, e não me arrependo, mas com isso veio esse abismo na minha frente. O quê eu vou fazer da minha vida? Quantos dias eu vou caminhar a troco de nada antes de descobrir o que eu quero? Por quê tive que deixar tudo para me sentir sozinho?

As pessoas, as amizades, tudo isso me parece, quando estou triste como hoje, uma perda de tempo, uma porção de frases feitas, sorrisos prontos e acenos de mão. Sei que estou sendo tremendamente injusto, e que amanhã já não será assim, mas é como me sinto hoje.

Meus dois calcanhares tem bolhas bem doloridas, tenho medo que elas piorem. Tenho mais 10-11 dias de Caminho, e quero chegar sem muito sofrimento à Santiago.

Só de escrever e botar para fora essa bola de pelos que estava entalada em minha garganta já me fez sentir melhor, mais leve, mais agradecido por estar vivo hoje, e poder duvidar de tudo livremente.

LM

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