quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Dia 18 e 19 - Caminho de Santiago - Léon e San Nicolas del Camino

E a grande memória de ontem foi: 


ALEX KID!


Enquanto eu e o Héctor conversávamos durante os longos, longuíssimos 37km que caminhamos, surgiu o assunto vídeo game e descobrimos que gostávamos do Alex Kid! É engraçado ver como pessoas que nasceram na mesma época, porém em lugares completamente distintos do planeta podem ter tantas experiências em comum.



Lembrei também do Diego, que vendeu o master system para comprar sua primeira guitarra. Como eu odiei meu irmão por isso. Como eu era besta. Se eu soubesse o quanto a guitarra faria meu irmão feliz, teria dado um abraço no Alex Kid e deixado ele ir sem problemas.

O dia em Léon foi um pouco estranho. Acabei incumbido de decidir onde ficaríamos, e escolhi um albergue ótimo, porém super longe do centro. As brasileiras que estão caminhando com a gente, Dani e Val, optaram por ir mais para perto do centro, e ficamos eu, os espanhóis e um italiano no quarto. O dia foi estranho porque estar em grupo acaba diluindo um pouco da sua própria personalidade. Com algumas pessoas se tem mais afinidade, com outras não, mas no final me parece que acabamos um pouco mais superficiais, sem nos colocar em nada muito intenso ou profundo.

Léon é uma cidade bonita, cheia de gente e bem antiga, com aquelas ruas cheias de histórias e construções seculares. A catedral foi a igreja mais bonita que entrei na vida, até onde posso lembrar, e pensei muito no livro Os Pilares da Terra, imaginando o Jack fazendo o cálculo das pilastras e abóbodas. O próprio áudio guia utilizava muitas expressões que li no livro como beleza, equilíbrio, jogo de pesos e contrapesos, entre outros.

Depois da igreja fomos fazer uma das coisas mais importantes quando se vem à Espanha: 

COMER CHURROS COM CHOCOLATE QUENTE MEU DEUS DO CÉU COMO ISSO É BOM EU QUERO TODO DIA POR FAVOR NÃO ACABA NUNCA!


Nossa, que saudade que eu tava dessa delícia! Fomos na chocolateria Valor, uma marca tradicional daqui, e realmente estava tudo muito bom, churros crocantes e fritos no ponto certo, chocolate no ponto ideal de cremosidade e intensidade, e aprendi com o Paco a primeiro passar a ponta do churro no açúcar, e depois banhar no chocolate.

Podia ir até Santiago comendo isso.

Depois começou a despedida do Paco, que foi meio fraude, porque ninguém conhecia bem a cidade. Tem uma coisa que os espanhóis normalmente gostam de fazer, que é ir de bar em bar comer tapas e tomar cañas, mas quando não se sabe bem onde é bom fica difícil. Fomos em um bar onde nos serviram uns camarões ao vapor bem honestos, e depois nos sentamos em outro onde comi as PIORES croquetas da minha vida, sem recheio, oleosas e sem sabor de nada. Mas a companhia era boa e estava divertido.

Se não fosse o italiano chamado mala, sobrenome vergonha alheia.

Sabe aquela pessoa inconveniente? Que aborda estranhos, principalmente meninas, o tempo todo e de forma constrangedora? Aquela pessoas que te interrompe quando você está falando, que introduz um assunto nada a ver na conversa, aquela pessoa que fala que vota na direita porque tem muito imigrante por aí? Então, apareceu um desses no nosso caminho.  Eu acredito que tudo seja aprendizado, e esse cara tem essa função de me mostrar que só entra e fica na minha vida quem eu quero, que eu não tenho obrigação de aceitar alguém que não me faça sentir bem. Claro, ao mesmo tempo, tem que se estar aberto a conhecer novas pessoas, quebrar velhos preconceitos e barreiras para crescer e tals, mas ainda assim com os limites que construímos a cada dia. 

Hoje de manhã, ao acordar, tentei sair com o Héctor de fininho sem ser percebido pelo italiano, que dormia, mas não deu muito certo, porque ele acabou acordando enquanto tomávamos café e foi conosco. Foi interessante sentir o velho conflito de interesses, comum a mim e a muita gente, entre ser educado e cortês, ou apenas seguir o que se está sentindo. Não acredito que na sociedade atual seja possível viver apenas de acordo com seus princípios, virando a cara para qualquer empatia ou preocupação com o outro (a não ser que se deixe de viver conforme as regras sociais, como o Alex Supertramp, e mesmo assim ele tinha uma boa relação interpessoal e era cordial), ao mesmo tempo, se preocupar em ser amigável e educado com quem não tem nenhuma importância para você, ou que você sabe que irá fazer você passar por situações chatas.

Esse é um equilíbrio muito sensível, principalmente para um libriano, mas estou cada vez mais pendente para o lado do foda-se, de dar valor e importância apenas à quem me faz bem. Parece óbvio, mas não é nada fácil.

A caminhada hoje foi mais tranquila em relação às dores, porém foi difícil pelo sol, pois foram 29km e saímos muito mais tarde do que o normal, as 8 da manhã. Chegamos em San Nicolas por volta das 13:30.

O hostel é uma delícia, com grama e árvores e, apesar de estar na beira da rodovia que cruza a cidade, tem um clima de paz muito gostoso. 

Fizemos nosso ritual básico e fomos ao mercado com as meninas e Jerôme para comprar coisas para comer. Fiz grão de bico na manteiga com cebola e alho, e depois coloquei chorizo picado no meio. Tão simples e tão gostoso! Hoje a noite vou fazer um macarrão quatro queijos e brigadeiros, pena que não tem forno para gratinar!

Hoje é 7 de setembro, dia da independência do meu país. Tentei cantar o hino nacional durante a caminhada e me embaralhei com a letra, o que foi uma pena, pois cantar o hino é uma coisa que eu gosto muito, vou ler várias vezes e tentar cantar com mais frequência, não sei porque mas acho importante. Parabéns Brasil, eu te amo.

LM



não é a cara da vergonha alheia?










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