sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Dia 21 - Caminho de Santiago - Foncebadon

Gente, quanta tristeza hein, sai fora!

Foi ótimo ter escrito sobre isso ontem, uns poucos minutos depois de escrever, estava dançando ila ilariê da Xuxa com a Dani e a Val para o Héctor, chorando de dar risada!

"vamos lá, subindo, mais alto!"

Obviamente a vida é feita de momentos difíceis, e acredito que precisamos mesmo viver nossas dores com a mesma intensidade com que vivemos as alegrias. A dor está presente por algum motivo, e tem com certeza uma função, por isso não deve ser ignorada, deve ser sentida, compreendida e vivida, para que essa compreensão possa ensinar e cumprir seu dever. Afastar a dor, a tristeza, é jogar sujeira para debaixo do tapete, é postergar algo que é necessário.

Hoje o caminho foi INCRÍVEL DE LINDO, e apesar dos seus 26km, não senti dores e cheguei me sentido muito bem ao povoado, e isso após subir uma montanha de mais de 400 metros de altura!

Também aconteceu algo importante hoje, algo do qual quero me lembrar depois (e é por isso que escrevo esse diário, é bom lembrar). Geralmente caminho sempre com o Héctor, conversando, ouvindo música, etc. Porém, nos momentos de subida temos ritmos diferentes, e ele acaba indo na frente. Hoje aconteceu igual, e quando estava sozinho coloquei para tocar o albúm "As Quatro Estações", do Legião Urbana, um disco que eu gosto muito, e que fazia muitos anos que não ouvia inteiro, se duvidar a última vez que ouvi foi em LP! 

A montanha de hoje era bem diferente do cenário dos últimos tempos, agora temos muitas árvores, uma vegetação mais variada e rica, plantas e flores rasteiras que mesclam verde, roxo e dourado à paisagem, e uma série de pinheiros baixos intercalados por samambaias, amoras, e diversas outras plantas, um cenário muito bonito! A subida, apesar de longa, não era muito inclinada, e pude ir observando o lindo cenário ao meu redor. Cantei forte vários trechos das músicas, curto o albúm todo, me lembra minha adolescência, os quartos das diversas casas onde morei, minha família, meus amigos. Pois bem, quando começou a tocar Monte Castelo eu pensei: nossa, que música linda, como eu gosto dela! De repente, sem prévio aviso, sem explicação, como um tapa na cara do nada, comecei a chorar. Começou mais como uma comoção, sem lágrimas, apenas aquele aperto no peito gostoso de emoção. No entanto, enquanto a música tocava, olhei para a paisagem e me dei conta da onde eu estava, e do que eu estava fazendo. Estou na Espanha, realizando um dos meus sonhos. Essa compreensão do poder da força de vontade, e de toda a ajuda que tive para poder ter a vida que eu tenho hoje me emocionaram, e mais do que isso, meu avô Morato estava comigo ali, mostrando para mim o quanto vale a pena ser forte e lutar, o quanto a vida pode ser INCRÍVEL, plena, cheia de coisas boas. Nessa hora já rolavam muitas lágrimas, quentes, pesadas, cheias de alegria e agradecimento. Cantei mais forte, murmurei muitas vezes obrigado, até o final da música.

Depois passou, me recompus e continuei a subir, tranquilamente, no meu ritmo, com essa certeza dentro de mim de que estou no Caminho certo.

LM 







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